segunda-feira, 30 de março de 2009

A Angústia

Angústia: (Do lat. angustia) S. f. 1. Estreiteza, limite, redução: angútia de espaço, angústia de tempo. 2. Ansiedade ou aflição intensa; ânsia, agonia. 3. Sofrimento, tormento, tribulação. 4. Hist. Filos. Segundo Kierkegaard, determinação que revela a condição espiritual do homem, caso se manifeste psicologicamente de maneira ambígua e o desperte para a possibilidade de liberdade. 5. Hist. Filos. Segundo Heidegger, disposição afetiva pela qual se revela ao homem o nada absoluto sobre o qual se configura a existência.
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Em julho do ano passado, uma menina de 8 anos sobreviveu a um acidente automobilístico no qual morreram seu pai, sua mãe e sua irmã em Uberlândia, no Triângulo Mineiro. O caminhão tombou na pista e as vítimas ficaram presas às ferragens. Além do motorista, morreram a mulher dele, Janaína Brás de Lima Pereira, de 30 anos, e a filha mais nova do casal, Maíza Brás Pereira, de 4 anos. Durante o resgate, os bombeiros conversavam com Amanda Brás Pereira, única sobrevivente, para mantê-la acordada. A menina se manteve calma durante todo tempo e após ser retirada das ferragens foi levada para o Hospital de Clínicas de Uberlândia. Ela sofreu apenas uma fratura na clavícula e escoriações. A família era da cidade de Santa Cruz da Baixa Verde, em Pernambuco. Pois bem.

Em depoimento à imprensa, Amanda explicou como o acidente ocorreu e o seu drama até o momento do resgate. Segundo a menina, todos da sua família morreram instantaneamente com o impacto e ela sentiu uma "angústia" enorme enquanto os bombeiros a resgatavam das ferragens. Amanda, que tinha apenas 8 anos na época, é uma menina esperta e certamente muito comunicativa, pois conseguiu traduzir o aperto que sentiu no coração ao ver ao seu lado toda a sua família morta com a tragédia. Imagine você o quão enorme foi a angústia que a pequena menina sentiu com aquela situação.

Parêntesis: As crianças hoje em dia estão muito espertas, começo a ficar assustado. Das duas uma (ou as duas mesmo): Ou eu era muito babaca e tinha amigos ainda mais babacas quando da minha infância, ou essas crianças realmente são o que tanto as chamam, verdadeiros prodígios. Digo isso sem medo, afinal quando eu tinha 8 anos, como a pequena Amanda, eu não sabia nem amarrar o tênis, muito menos o que diabos era angústia.

"No tocante à análise do problema da angústia, Arthur Schopenhauer, filósofo irracionalista, nos apresenta em sua filosofia uma visão extremamente pessimista da vida: para ele, viver é necessariamente sofrer. Por mais que se tente conferir algum sentido à vida, na verdade, ela não possui sentido ou finalidade alguma. A própria vontade é um mal. Nós queremos vencer, desejamos vencer. Mas a vontade gera a angústia e a dor e, os mais tenros momentos de prazer, por mais profícuos que possam vir a ser, são apenas intervalos frente à infelicidade que é viver. A felicidade é, nesse sentido, apenas uma ilusão, restando-nos apenas a busca de meios para suspender a dor e o sofrimento.

É com base em Schopenhauer que um outro pensador alemão, Friedrich Nietzsche, concluiu que, dentre todos os povos da Antiguidade, os gregos foram os que apresentaram maior sensibilidade para compreender o sofrimento e a tragicidade da existência humana, como que permeada pela dor, solidão e morte. No entanto, os mesmos gregos criaram uma sociedade baseada no princípio do equilíbrio: nada em demasia como forma de combater todos os nossos instintos e paixões.

A arte é concebida, nesta concepção da vida, como catarse. Assim surgiram as tragédias gregas que, enquanto parte da representação e da aparência, nos colocam ainda hoje em contato com toda a tragicidade e angústia de nossa existência. Segundo Nietzsche é preciso ter consciência de que a vida é sim uma tragédia, para que possamos desviar um instante os olhos da nossa própria indigência, desse nosso horizonte limitado, colocando mais alegria em nossas vidas. A arte tem essa função.

Sigmund Freud, pai da Psicanálise, realizou estudos sobre o problema da angústia. Ele afirmou que vivemos um profundo mal-estar provocado pelo avanço do capitalismo. Neste ínterim, é interessante observar o quão sucestível o Ocidente está às doenças próprias desse sistema econômico, tais como a esquizofrenia. Contudo, a mais eminente colaboração da Psicanálise para essa temática pode ser percebida na sua análise do aparelho psíquico: um conflito interno entre três instâncias psíquicas fundamentais ao equilíbrio do ser: as vontades (Id) vivem em constante atrito com o instinto repressor (Superego). O balanço entre as vontades e as repressões tem que ser buscado pelo Ego, a consciência. É o Ego que analisa a possibilidade real de por em prática uma ação desejada pelo Id. Não obstante, controla o excessivo rigor imposto pelo Superego. A esse conflito entre o Id e o Superego, Freud denominou angústia. Cabe ao Ego, portanto, a busca de um equilíbrio entre estas partes do psíquico e, não obstante, entre o sujeito e o todo social."

Schopenhauer, Nietzsche e Freud, três carinhas muito bons, meus favoritos, diga-se de passagem. Numa tentativa falha me arrisco a definir a angústia como um nó na garganta, um aperto no coração, é espécie de aflição, é o ápice da dor psicológica, é quase dor física (soma). Seja por perda de familiares, como no caso da pequena Amanda, por insucesso ou culpa, a verdade é que a angústia é um sentimento extremo, agudo e do qual não dá pra fugir. Quando vi o depoimento na TV da menina, consegui imaginar sua dor no coração e ali, só ali, aprendi o profundo significado do termo.

Obs.: Não é que eu não saiba, eu só amarro o tênis de um modo alternativo. "-Quê que tem?"
Fontes: Novo Dicionário Aurélio, wikipedia e outros.

Be Abreu.

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