sábado, 13 de setembro de 2008

Por um Setembro Não-Etílico

Para aqueles que vinham acompanhando as desventuras alcoólicas pelas quais ele vinha passando, essa poderia ser não só a decisão mais sensata, como também a mais improvável, afinal todos sabiam que se tratava de uma tarefa difícil e inédita. Mas a opinião dos outros não importava naquele momento. Estava decidido a provar para si mesmo que era capaz de controlar seus impulsos e vontades, principalmente aquelas com grande potencial de arrependimento (que como todos sabem só pode ser posterior). Mas claro. Um insight louco desse não poderia simplesmente brotar na consciência como um feijãozinho no algodão, não... Foi preciso mais do que isso.

Há pessoas, muitas delas, que preferem começar uma dieta na segunda-feira para aproveitar o fim de semana à la "despedida da comilança e da felicidade"; comem tudo que aparece pela frente e depois conhecem a já velha história onde a preguiça acaba com a dieta antes da dieta com os quilos sobressalentes. Ele não teve o tal privilégio. Pra variar estava de ressaca, pra piorar era uma manhã de segunda-feira e pra completar, dia 1º.

Foi quando levou uma sacudida homérica. Não pela força física da abordagem, mas pelo conteúdo do sermão. Daqueles onde há nada pra falar, mas muito pra ouvir. Até aí mais uma vez morreu o tal do Neves, tudo igual. Foi quando veio a sugestão: Provar quem está no controle da situação, o instinto e o hábito ou a consciência e a razão. Um mês inteiro com seus 30 dias divididos em 4 semanas, cada uma dessas com um sábado e um domingo e ainda uma quarta-feira de futebol na TV, talvez não fosse muito tempo, mas só saberia se tentasse. Entrou nessa. Setembro seria então um mês sóbrio.

Imaginou e analisou as conseqüências dessa decisão no mesmo instante: as geladas com amigos, os churrascos, bares e nights. Todos estes sem cerveja ou destilados de qualquer natureza. Porém enxergou também que poderia ser interessante e até engraçado em certo ponto ficar sem álcool durante um mês, tão somente pra ver como seu corpo (em especial sua barriga) e as outras pessoas reagiriam e constatar o nível do seu gosto (porque vício é pesado demais) pela "fuga da realidade" que a bebida proporciona. A primeira providência que tomou foi comunicar seus próximos da decisão. Sim, porque dessa forma a cobrança viria também de fora no caso de uma possível escorregada. Não poderia funcionar melhor.

Meses antes havia tomado decisão parecida. Essa, da mesma forma, foi provocada por um apelo, mas não externo. Havia ficado muito doente, mais um número para estatística de vítimas do mais carioca dos mosquitos, o Aedys... Nesse período não foi capaz de fumar. Não porque não queria, mas simplesmente não conseguia. Fumar era um hábito que mantinha já há algum tempo e que, segundo suas reflexões, deveria ser combatido mais cedo ou mais tarde. Daquela vez a doença o pegou de jeito, uma semana até reabilitação total (ou quase isso) e ao final desta percebeu que a fumaça já não era tão necessária e que poderia mais uma vez tentar abandonar o cigarro. Conseguiu...

Durante o processo não-etílico lembrou-se por várias vezes da filosofia "só por hoje", muito usada em grupos anônimos das mais diversas naturezas. Era nessa frase que pensava quando arquitetava ainda que inconscientemente uma escapadinha, se transformou num tipo de mantra para ele. E foi assim que um mês se passou sem que tivesse vacilado do compromisso.

Diziam que no mês de Outubro ele compensaria o que não bebeu e acabaria por beber mais ainda. Ele dizia que não, que já não tinha a mesma vontade de beber como antes. Mas isso só o tempo dirá.



Ouvindo Good Ridance (Time Of Your Life) - Green Day.

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